O recheio desse blog é feito na grande maioria por amigos, artístas anônimos ou não.
E não dava pra deixar de postar algo da Sandra por aqui.
Sandra Veroneze, jornalista, escritora, piadista (hehehe) e de quebra ainda navega muito bem pela filosofia e tem fascinação por estratégias de guerra.
Aí vai um de seus textos mais recentes que o IdéiasdaCabeça teve a honra de ter acesso em primeira mão.
a batalha nossa de cada diasandra veroneze - abril/2007Assuntos militares sempre me atraíram. Gosto de estudar armamento, estratégias de guerra, tática de combate, a moral dos exércitos, enfim, tudo relacionado à arte de pegar em armas para atacar e defender, seja pela honra, seja pela pátria... Meu particular interesse, obviamente, recai sobre os antigos combates, e então os samurais e os exércitos gregos e romanos estão constantemente na minha mira.
Se no cinema filmes como Herói, Alexandre, O Último Samurai e O Samurai do Entardecer me

encantaram, na literatura nenhum outro livro relacionado a guerra me fascinou tanto como Portões de Fogo, de Steven Pressfield. Lembro-me de ter concluído a leitura arrepiada, como se no desfiladeiro das Termópilas, com os 300 de Esparta, tivesse estado.
Portões de Fogo conta a Batalha de Termópilas, em 480 a.C, quando o império persa, liderado por Xerxes, mobilizou seus exércitos para a invasão da Grécia. Várias cidades já haviam sido dominadas pelo terror, rendendo-se sem lutar. Atenas e Esparta, no entanto, decidiram resistir. A missão era retardar o inimigo e foi atribuída a uma elite de guerreiros espartanos, liderados por seu rei, Leônidas.
Essa história é fascinante. Se os artistas da Renascença encantam pela sensibilidade, pelo senso de equilíbrio estético, pela noção do belo, os espartanos são igualmente encantadores na arte da guerra. Falar dos espartanos é falar de um povo forjado na batalha, fortemente comprometido com a cultura militar e todas as virtudes nela necessárias: coragem, desprendimento, lealdade, bravura, coragem, espírito de sacrifício, disciplina...
Considerando que viver, de certa forma, é uma luta, e que todo dia uma batalha que se renova, o soldado cidadão tem muito a nos ensinar. Soldado cidadão é o espartano, aquele que luta por convicção, por acreditar na causa, por identificar no bem do grupo seu próprio bem. O soldado cidadão luta pela honra, luta pela glória, luta pelos interesses de sua pátria, e assim vence, mesmo que o resultado seja a morte, da qual não tem medo. O soldado cidadão vai à guerra sabendo que vai matar e que pode morrer, mas isso é detalhe, uma vez que o motivo pelo qual

ele luta é maior que ele mesmo. O soldado cidadão é vencedor, porque antes de dominar ao inimigo, já dominou a si mesmo. Abdicou de todo egoísmo, de seus interesses pessoais...
A analogia se impõe: em nossa luta cotidiana, quem são nossos parceiros de front? Quem são os inimigos? Quais são nossas armas? Qual o campo em que travaremos o combate? Mais: quais são nossas lutas? Quais são nossos ideais? Em um mundo onde tantas pessoas se perguntam qual o sentido da vida, ter certeza das respostas de questões como estas pode ser um bom começo para uma existência mais feliz e realizada. E então, em coração, seríamos como Leônidas, que diante da ameaça de Xerxes de que as flechas inimigas seriam numerosas, capazes de bloquear a luz do sol, responderíamos: “Ótimo, combateremos então à sombra!”.